terça-feira, 29 de março de 2011

acontecem coisas perigosas na cidade

Foi então que a brincadeira de ser jornalista (ou revolucionária) ficou séria. Alguém notou que o povo descia correndo. E gritou "é gás lacrimogênio!". O primeiro impulso foi correr. O segundo foi segurar a câmera. O terceiro foi tentar manter a consciência e o controle sobre o próprio corpo. Em vão. Só conseguia ouvir gritos e enxergar pés desesperados e fumaça branca. Mas esse só, segundos depois, era tudo que queria conseguir ver. Fiquei cega e percebi que de meus olhos não paravam de sair um líquido, qualquer que fosse ele. Talvez lágrima. Nariz escorrendo e garganta pegando fogo. Difícil era saber o que doía mais: olhos, nariz, boca, pulmões. O inferno estava dentro do meu corpo. Fechei os olhos, cuspi, prendi a respiração. Quis vomitar, não deu. Quis encontrar a Camila, não deu. Quis parar de respirar, não deu. Pensei na mãe, pensei no hospital, pensei na dor, pensei no Brasil. Engraçado como o corpo não te obedece. Como mesmo sabendo que respirar te faz mal e machuca, ele respira. Irônico como meu mantra naquele país de repente se tornou meu pior inimigo. Incômodo que isso aconteça em um lugar chamado La Paz. Maldita experiência que só sabe mesmo quem já passou.

Um comentário:

  1. Tentei aqui lendo, chegar um pouquinho perto de saber como foi isso, não deu.

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