domingo, 12 de fevereiro de 2023

epílogo

vamos voltar?
não! não quero voltar agora. a proximidade de precipícios me fascina.
que precipícios? estamos na minha sala e aqui não há precipícios.

feche os olhos.

fechei. e daí?

agora estou junto de você. sinta minha respiração.

estou sentindo. e daí?

isto é um precipício. mais um passo e não poderemos mais voltar.

então não dê esse passo.

tá.

ufa! não sabia que os precipícios tinham tanta força de atração.

bem... já que você não quis, então vamos voltar.

vamos.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

notas para afonso VII

meu corpo já não fica mais tão triste de saudade, afonso. meu peito já não formiga quando penso em tudo que nunca vou viver com você. vez ou outra ainda lembro de como você coça a barba quando tá crescendo, do cheiro da sua boca ou de como você me oferecia cheio de malícia aquele licor de chocolate. e depois me beijava pra provar o sabor. também lembro com saudade dos seus olhinhos brilhando enquanto você me contava sobre todos aqueles filmes que nunca vou ver. mas não choro mais. escrevo porque tenho medo de esquecer, mas também pra arrancar logo essa sensação de dentro de mim, com raiz e tudo. uma vez você perguntou se eu me arrependo de ter mandado aquela mensagem. sim. e muito. tivesse eu segurado minha língua, hoje não saberia tudo que estou perdendo. prometo que estou me esforçando, afonso. em breve você será apenas uma lembrança feliz e, com sorte, eu serei apenas um sorriso entre uma mensagem de internet e aquela noite em que gargalhamos até sentir dor nas costelas

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

notas para afonso VI

oi. sei que o melhor é não nos falarmos muito, mas é que hoje eu vi esse arco-íris e lembrei de você. na verdade eu lembro de você o tempo todo. todos temos nossas loucuras, afonso, e a gente nunca fez muito sentido mesmo, você me disse. mas, apesar do combinado, me chama qualquer dia desses pra gente conversar, como sempre. te quero bem.

domingo, 29 de janeiro de 2023

notas para afonso V

foi quando levei pra cama um alguém real: carne, osso, dívidas no banco... você se deitou de pau duro e eu me debrucei sobre seus defeitos, seu ego, sua vontade de morrer e lambi sua alma. você gemeu antes mesmo de entender. gemeu muito tempo depois também. e eu tenho gemido seu nome enquanto durmo e lembrando da possibilidade da ilusão. mas eu tinha levado um alguém real pra cama e o combinado era gozar e partir. o combinado era brincar de conto de fadas, de filme pornô, de bang bang... naquela cama, pelo tempo necessário (e nunca se sabe ao certo) e parar. só que o caos, afonso, não age conforme o combinado

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

notas para afonso IV

eu não te vejo há algum tempo e ainda assim você está tão presente aqui comigo. é muito provável que você nunca sinta isso, porque você tenta ter tudo sob controle, você não tira o pés do chão. pensa tanto no que pode dar errado que nem começa. mas eu não me jogo tanto assim, afonso. eu conheço a receita, sei das regras da sala de espera. e não pretendo permanecer nela até o outono. você conseguiria me chamar pelo meu nome?

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

domingo, 15 de janeiro de 2023

notas para afonso - I

por alguns instantes, bateu-me um desejo de te puxar pela cintura e falar coisas malucas no seu ouvido, só pra ver seus olhos fechadinhos com seu sorriso... num momento de fraqueza, desejei beijar o seu pescoço bem devagarinho, sem pressa, pra te enlouquecer…. beijar toda a extensão da sua pele… as minhas mãos em seu pescoço, meus dedos enroscados na sua barba... quantos beijos seriam necessários para medi-lo?

sábado, 14 de janeiro de 2023

prefácio II

é afonso, acontece que estar nus um diante do outro e, no meio de um balé frenético de mãos, lábios, barrigas, línguas e gozo, ter uma crise de riso, daquelas que fazem doer um músculo assim meio perto da costela, é privilégio pra poucos. é quase um milagre.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

notas para alfredo IV

mais uma vez aprecio o pôr do sol pela janela do meu quarto sem você.
os tons de azul me lembram a a leveza do seu sorriso recebendo massagem nos olhos enquanto sua respiração mansinha aquece a palma da minha mão. a medida que a nova noite chega, o laranja cor de fogo interrompe minha solidão e me leva pras noites quentes e úmidas ao seu lado, balançando na rede à luza da lua nova debochando das nossas inseguranças. duas crianças querendo se divertir, assuatdas no começo da fila tendo que decidir se encaram o primeiro carrinho da montanha russa ou, depois de horas de espera, saem do brinquedo sem nem experimentar o frio na barriga da primeira descida. quem sabe eu sigo em direção ao algodão doce e você, ao trompa-trompa? aquele horizonte ali? chega a me sufocar! a infinitude espreme meu coração de vontade de ouvir sua voz, sentir seu cheiro, ser cúmplice da sua risada.
amanhã, quando o sol quente voltar ao céu e todas as nuvens testemunharem seu caminho em direação a uma vida sem mim, estarei procurando nelas desenho de coração, um gato, quem sabe pimenta ou uma xícara de café. qualquer emaranhado branco que me lembre o formato da sua barba despenteada. é assim que eu me distraio todos os dias, esperando um novo pôr do sol, que é feito de melancolia e representa a dor do fim, mas carrega consigo a esperança do recomeço a cada amanhecer.